Já tentaram me dizer que não sou bom na única coisa em que me acho bom. Sinceramente, não me acho tão bom assim, mas pelo menos bom o suficiente para sempre receber favorecimentos. Não sei se isto é um mimo mal acostumado cravado em minha cabeça não pensante a partir do pressuposto de que sempre há um dos tais ao final de cada apresentação, ou se é algo proveniente da minha mente orgulhosamente demente, que não para de tentar se autoafirmar em uma coisa sobre a qual poderia fazer isto, mas não deveria.
A melodia harmoniosa que ouço hoje não é a mesma de dois anos atrás. A involução tem sido dominante à evolução recessiva. Aquilo que eu podia fazer, e o fazia com facilidade, hoje necessito de um pouco mais de esforço. O que será que está acontecendo? O que será que mudou?

Será que eu cheguei a este ponto? Nunca antes ouvira alguém se portar a mim como portaram-se há algum tempo. Talvez seja apenas imaginação de minha mente, já que ainda ontem o favorecimento reergueu-se após um longo ano de expectativas. Mesmo assim, aquela desmotivação me tocou. Porque eu realmente percebi que não sou mais o que eu era antes. Não tenho mais o que eu tinha antes. Enterrei o meu talento. Estou deixando-o apodrecer em baixo da terra. E, quando desenterrá-lo, será apenas para perdê-lo.
O tempo passa, e há mais algumas chances de eu escavá-lo e ainda encontrá-lo denegrido, mas não totalmente ruído. A única e absoluta questão é: será que eu realmente quero isto?
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