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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Rainy day




Há muito tempo atrás inspirava-me em dias chuvosos, deleitava-me em vivê-los, assombrava-me de prazer por cada gota que sentia cair em meu corpo estupefato, cansado. A mansidão advinda destas gotas proporcionava-me um estado inerte, onde podia encontrar descanço, repousar.
   As gotas, então, começaram a cair mais vigorosamente, a massagem, que antes elas faziam em minha face, tornara-se um salpicar aprazível, oriundo de uma alegria inexplicável, emergindo de cada poro do meu corpo. Não definir o que era não é algo tão difícil, apenas quem viveu sabe explicar, sabe entender o quão maravilhoso é sentir o que eu senti.
   Este estágio logo é ultrapassado, as gotas não mais são gotas, mas tornam-se pedras, a velocidade com que caem é assutadora, englobando uma área de amedrontrante frustração, o granizo que é formado não são simples minúsculas pedras congeladas, mas corpos maciços de estado aquoso condensado que vituperam toda sensibilidade da alma, gerando uma ardência escaldante e uma anestesia insensata. A dor é tão excruciante que após ela, nada mais torna-se apalpável.
   O granizo pára de cair, penso, então, que está tudo terminado, essa chuva já passou, volto a descansar, imaginando aquele suave gotejar novamente na crista de meus olhos, como colírio que faz-me pestanejar e, finalmente, voltar a sonhar, em paz, em tranquilidade, sozinho.
   Espero que comece a chover novamente, afinal, a cada uma destas chuvas temporãs, meus olhos enxergam melhor, minha visão é mais aguçada, precisa-se de menos colírio, de menos tempo.
   Houve uma ruptura, onde cheguei, hoje não consigo mais voltar atrás. Não consigo explicar, talvez a sua zona de desenvolvimento potencial ainda demorará muito para chegar onde a minha proximal já alcançou: a virtude de entender, de perceber, que esta chuva foi apenas para me fazer crescer, florescer, sair do jardim, jardim de infância, e ir para a mata, a selva acadêmica.

p.s.: ISD rules

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