Você está perto demais de um grande acontecimento em sua vida. Algo que jamais acontecerá novamente. Algo que marcará o fim de uma era e, consequentemente, o início de outra.
Você pensa, repensa, pára e olha tudo ao redor. Imagina um momento claro, bonito e cheio.
Neste instante você se depara com um pesadelo. Alguém de capa preta, um pouco mais baixo que você e bem mais esguio se aproxima com um extirpador de ensejos em sua mão, deseja-lhe bom dia, boa tarde, boa noite, o que for. Você, educado como sempre fora, retribui os cumprimentos modestamente e volta-se a seguir seu rumo visando alcançar aquilo para o que nascera o dia de hoje. Ao terceiro passo, o vulto esguio desaparece, na verdade, tudo desaparece, e você só se vê em um lago negro, banhado em uma luz verde inebriante. Um barco com um remador espera-o à margem do rio. Instintivamente você sobe, conversa com o remador, contudo ele não te diz nada. Rema até o meio do rio, o vulto esguio enegrecido surge novamente e, desta vez, te empurra para dentro do lago banhado ao verde melancólico. Você se sente sucumbir, sente desespero, sente dor. É lancinante, enlouquecedor.
O mundo pára de se agitar. O dia acabou. Você acordou, mas isso não quer dizer que chegara perto daquilo que um dia ansiara. Hoje não é mais ontem, e as dores desta mudança ficaram presas para sempre em seu interior.
Você acordou, mas isto não é prova alguma de que permanece vivo.